MENU

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

LIBERDADE E ESCRAVIDÃO NO CONTEXTO DA DOUTRINA DOS ESPÍRITOS (Jorge Hessen)

 (Jorge Hessen)
http://aluznamente.com.br

Estima-se que existam no mundo entre 12 a 27 milhões de pessoas escravizadas nas diversas atividades da indústria, serviços urbanos, agricultura e nos calabouços da prostituição. “Andrew Forrest, o 4º homem mais rico da Austrália e 211º do mundo, segundo o ranking da revista Forbes, almeja erradicar a exploração do trabalho forçado do planeta. Em 2012, ele criou a ONG Walk Free, injetou nela 8 milhões de dólares, mais doze milhões em 2013, e aliou-se ao mais famoso dos neoabolicionistas, o americano Kevin Bales. O primeiro fruto da Walk Free é um mapeamento da exploração da mão-de-obra em 162 países do mundo”.(1)
Constatamos que Forrest (talvez ele nem saiba disso) movimenta-se sob os auspícios dos ideais que alguns ricos disseminaram na Europa no século XIX. À época instituíram metas solidárias(2) para a erradicação da escravatura na sociedade, e sob essa bandeira abolicionista vários países aderiram, inclusive o Brasil.
No entanto, os envelhecidos ideários abolicionistas não conseguiram erradicar a servidão da sociedade. O termo “escravidão” constitui prática social em que um homem assume direitos de propriedade sobre outro através do engenho  da barbaridade. Em algumas sociedades, desde os tempos mais remotos, os escravos eram legalmente definidos como uma mercadoria. A expressão “escravidão”, aqui pesquisada, tem significado peculiar, pois atualmente não se compra ou se vende pessoas como outrora. No entanto, é legítima a expressão escravidão para mencionar, por exemplo, as atuais relações de cidadania ante governos autoritários e de trabalho em que os trabalhadores são constrangidos a desempenhar uma atividade contra sua vontade, sob intimidação, agressão corporal e psicológica ou outras formas de barbaridades.
Portanto, podemos dizer que há escravidão nos países, notadamente os de “soberania popular volátil”, regados a regimes totalitários, onde não se admite livre expressão do pensamento. A liberdade de consciência é uma particularidade da civilização em seu mais adiantado estágio de desenvolvimento. Uma sociedade pacata para sustentar a estabilização, a conformidade e o conforto necessita constituir preceitos coerentes, lei e códigos legais portadores de medidas disciplinadoras.
Para a Doutrina dos Espíritos, os meios compõem os fins; não se pode aspirar ao amor, à justiça, à liberdade, operando por meios impetuosos, abomináveis, políticos e partidários violentos. Na questão 837, de O Livro dos Espíritos, Kardec indagou qual seria o resultado dos entraves à liberdade de consciência. E os Espíritos responderam: "Constrangimento dos homens a agir de maneira diversa ao seu modo de pensar, o que os tornaria hipócritas".(3) As doutrinas materialistas “são as grandes chagas da sociedade”.(4) Qualquer organização social “fundada sobre base materialista traria em si mesma os germes da dissolução e os seus membros se despedaçariam entre si como animais ferozes.”(5)
Há diversos tipos de cerceamento da liberdade (“escravidão contemporânea”), a exemplo das mulheres e meninas que são “arrebatadas” para a servidão dos empregos de ocupações domésticas ou de ajudantes de serviços gerais, além de ocorrerem, em várias partes do orbe, o tráfico de mulheres para o meretrício forçado.
Impossível permanecermos impassíveis frente à brutalidade e violência contra a liberdade humana em pleno século XXI. Sou apolítico por natureza, mas avaliando diariamente os noticiários nacionais e internacionais sobre a liberdade do cidadão, apesar de revelar uma aberração, identificamos que a escravidão, sobretudo ideológica e partidária, ainda acontece em diversas partes do mundo, mormente nos países unipartidários, a exemplo da República Popular da China, República de Cuba, República Socialista do Vietname, República Democrática Popular da Coreia, República Democrática Popular de Laos.
Sobre a escravidão através do tráfico de pessoas (principalmente mulheres e crianças), nenhum país do planeta está livre dessa desonra. O trabalho escravo contemporâneo pode ser tão ou mais cruel que sua versão histórica, pois suas vítimas oferecem-se voluntariamente ao serviço, iludidas por uma promessa de emprego.
Mergulhando doutrinariamente na essência do tema “Escravidão X Abolição”, somos convidados a compulsar a monumental obra literária espírita “Brasil Coração do Mundo Pátria do Evangelho”, a fim de deter-nos na elaboração da Abolição no Brasil, inicialmente articulada no Além-Túmulo, segundo certifica o Espírito Humberto de Campos.
O célebre poeta maranhense, “Conselheiro XX” da Academia Brasileira de Letras, expõe que a Princesa Isabel reencarnou compromissada com a libertação dos escravos na “Pátria do Cruzeiro”. Todavia, todo o curso do processo já vinha sido tracejado pelas equipes de Ismael, sob as ordens de Jesus, que buscavam administrar as animações republicanas e abolicionistas com elevada quietação e muita prudência, com o intento de impedir desordens.
“Disse o Mestre:
- Ismael, o sonho da liberdade de todos os cativos deverá concretizar-se agora, sem perda de tempo. Prepararás todos os corações, a fim de que as nuvens sanguinolentas não manchem o solo abençoado da região do Cruzeiro. Todos os emissários celestes deverão conjugar esforços nesse propósito e, em breve, teremos a emancipação de todos os que sofrem os duros trabalhos do cativeiro na terra bendita do Brasil.
Sob a anuência do Governador da Terra, Ismael deu início à tarefa de erradicar a escravidão no Brasil. Influenciado pelos responsáveis invisíveis da pátria, D. Pedro II foi apartado do trono nos albores de 1888. Desta forma, a Princesa Isabel, que já havia sancionado a Lei do Ventre Livre em 1871 - lei que garantia a liberdade aos filhos dos escravos - assumia a Regência. Sob a inspiração do Divino Galileu, a princesa escolhe o Senador João Alfredo para organizar o novo ministério, que seria formado por notáveis espíritos ali encarnados.
Em 13 de maio de 1888, os abolicionistas apresentam à regente a proposta de lei que Isabel, cercada de entidades angelicais e misericordiosas, sancionou sem hesitar. Nessa data, toda uma onda de claridades compassivas descia dos céus sobre as vastidões do norte e sul da Pátria do Evangelho. Ao Rio de Janeiro afluem multidões de seres invisíveis, que se associam às grandiosas solenidades da abolição. Junto ao espírito magnânimo da princesa, permanecia Ismael com a bênção da sua generosa e tocante alegria.
Enquanto se entoavam hosanas de amor no Grupo Ismael e a Princesa Imperial sentia, na sua grande alma, as comoções mais ternas e mais doces, os pobres e os sofredores, recebendo a generosa dádiva do céu, iam reunir-se, nas asas cariciosas do sono, aos seus companheiros da imensidade, levando às alturas o preito do seu reconhecimento a Jesus que, com a sua misericórdia infinita, lhes outorgara a carta de alforria, incorporando-se, para sempre, ao organismo social da pátria generosa dos seus sublimes ensinamentos.”(6)
Na “Pátria do Evangelho”, a escravatura foi abolida oficialmente em 13 de maio de 1888, porém, lamentavelmente, 107 anos após a “Lei Áurea” (1995) o governo brasileiro admitiu a existência de condições de trabalho análogas à escravidão do século XIX. Embora haja diversos acordos e tratados internacionais que abordam a questão do trabalho escravo, muitos trabalhadores ainda não recebem salários, assistência médica nem têm direitos trabalhistas. São vigiados por pistoleiros e proibidos de sair dos locais de trabalho forçado.
Para os espíritas, é totalmente “contrária à lei de Deus toda sujeição absoluta de um homem a outro homem. A escravidão é um abuso da força. Desaparece com o progresso, como gradativamente desaparecerão todos os abusos.  É contrária à Natureza a lei humana que consagra a escravidão, pois que assemelha o homem ao irracional e o degrada física e moralmente.”(7)

Referências bibliográficas:

(1) Disponível em , acessado em 15/01/2014;
(2) Consistentes teses acadêmicas comprovam que não foi e nem poderia ter sido por motivos econômicos;
(3) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, questão 837, RJ: Ed. FEB, 2006;
(4) Idem, questão 799;
(5) Idem, questão 148;
(6) Xavier, Francisco Cândido. Brasil, Coração do Mundo Pátria do Evangelho, ditado pelo espírito Humberto de Campos, RJ: ed. FEB, 2006;
(7) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, questão 829, RJ: Ed. FEB, 2006.

sábado, 11 de janeiro de 2014

PERIPÉCIAS E EFICÁCIAS DO “PASSE” NOS CENTROS ESPÍRITAS (Jorge Hessen)

http://aluznamente.com.br

Ainda muito jovem fomos convidados para “receber” um “passezinho” no centro espírita. Após ouvir a palestra, adentramos na sala de passes , postamo-nos diante do passista e, de modo repentino, o passista deu início a estrondosos e arrepiantes “ARROTOS” na sala. Procuramos consultar o que estava ocorrendo e fomos informados, pasmem! Que o ARROTO era um tratamento de “dispersão” fluídica concentrada no ambiente.  Naquela época não professávamos o Espiritismo, obviamente ficamos muito indignados. 
Os anos advieram, estudamos  as obras de Allan Kardec , adotamos a proposta da Doutrina dos Espíritos como ideal de vida, contudo, tragicamente ainda hoje temos informações sobre “técnicas” terapêuticas curiosíssimas, realizadas em algumas casas “espíritas”. Atualmente existem instituições que oferecem sessões de passes para todos os gostos e interesses, a exemplo do passe “normal” aplicado obrigatoriamente  após as palestras públicas, normalmente destinado aos famosos papa-passes; do passe “forte” (com direito a arremedos de exorcismos de obsessores na presença do obsedado); do passe “ultra forte” do tipo CURA TUDO  (destinado a enfermos graves, obsedados, psicóticos etc., com direito a acorrentamento de obsessores e até "engarrafamento e enrolhamento” dos algozes das trevas); do passe "virtual", VIRTUAL (!? hummm...) etc. Seria caricata se não fosse patética tal ocorrência.
Há os que “transmitem” passes através de gestos desabridos, malabarismos manuais, choques bizarros com tremeliques corporais, estalos de dedos, cantos peculiares, e ainda os famigerados ARROTOS, isso mesmo! ARROTOS...! Há passistas que incorporam “entidades” durante o passe, esquecidos de que não se deve aplicar passe mediunizado porque não é prática espírita. Não há necessidade de incorporação mediúnica nas sessões de passe. O passista pode até agir sob a influência da entidade, mas não carece verbalizar, aconselhar ou transmitir mensagens outras concomitantes ao passe. É contraproducente!  O assunto é recorrente, mas não há como ignorá-lo, até porque a aplicação do passe magnético não comporta atitudes imprudentes, nem admite desatino nas suas expressões. Exige, sim, um estudo contínuo dos seus mecanismos, sobretudo quanto à necessidade de sua aplicação.
Conhecemos médiuns que só aplicam passes com roupas brancas, ou debaixo de pirâmides metalizadas. Há os que terceirizam para o além o passe através das viagens astrais (através das  milagrosas apometrias), e mais uma infinidade de métodos, para todos os (des)gostos. Isso, sem deixar de citar que  aplica-se passes magnéticos nas paredes dos centros espíritas para "descontaminá-las" das energias negativas.  
Afastando-nos dessas peripécias passistas, analisemos efetivamente o significado do tema na instituição espírita. Vimos que existem inúmeras práticas não compatíveis com a sã Doutrina Espírita que urge sejam arguidas à exaustão, nas bases da compostura cristã, sem nenhuma  pecha  de intolerância , obviamente. Até porque a verdadeira prática Espírita é a expressão da moral cristã, consubstanciada no Evangelho do Cristo. 
O bom emprego do passe não admite qualquer expediente espetaculoso. As encenações preparatórias – “mãos erguidas ao alto e abertas, para suposta captação de fluidos pelo passista, mãos abertas sobre os joelhos, pelo paciente, para melhor assimilação fluídica, braços e pernas descruzados para não impedir a livre passagem dos fluidos, e assim por diante – só servem para ridicularizar o passe, o passista e o paciente. A formação das chamadas “correntes” mediúnicas, com o ajuntamento de médiuns em torno do paciente, “as ‘correntes’ de mãos dadas ou de dedos se tocando sobre a mesa – condenadas por Kardec – nada mais são do que resíduos do mesmerismo do século XIX, inúteis, supersticiosos e ridicularizantes.”(1)
O passe deverá sempre ser ministrado de modo silencioso, com naturalidade. Os espíritas não são proibidos de nada, todavia práticas alucinadas são inaceitáveis.  A propósito do legítimo passe,“assim como a transfusão de sangue representa uma renovação das forças físicas, o passe é uma transfusão de energias psíquicas, com a diferença de que os recursos orgânicos (físicos) são retirados de um reservatório limitado, e os elementos psíquicos o são do reservatório ilimitado das forças espirituais.” – explica o Espírito Emmanuel.(2) Recordemos que Jesus utilizou o passe "impondo as mãos" sobre os enfermos e os perturbados espiritualmente para beneficiá-los. E ensinou essa prática aos seus discípulos e apóstolos, que também a empregaram largamente. Entretanto, é nas hostes espíritas que o passe é melhor compreendido, mais largamente difundido e utilizado.
O Evangelista Mateus numa das suas narrativas assegura que "Jesus, estendendo a mão , tocou-lhe dizendo: Quero, fica limpo! E imediatamente ele ficou limpo de sua lepra".(3)  Mas o que é efetivamente o passe? “É uma transfusão de energias, capaz de alterar o campo celular.” (4)Na definição do “Aurélio”, o passe seria o “ato de passar as mãos repetidamente ante os olhos de uma pessoa para magnetizá-la, ou sobre uma parte doente de uma pessoa para curá-la.”(5) No Pentateuco mosaico  localizamos o seguinte evento:  "Josué, filho de Num estava cheio do espírito de sabedoria, porquanto Moisés havia posto sobre ele suas mãos : assim os filhos de Israel lhe deram ouvidos, e fizeram como o Senhor ordenara a Moisés.”(6) 
Sabemos que "é muito comum a faculdade de curar pela influência fluídica e pode desenvolver-se por meio do exercício.” (7)Mas cabe esclarecer que o passe e imposição de mãos não são a mesma coisa. Tem-se a imposição de mãos como apenas um método, mas naturalmente  uma pessoa desprovida  dos braços pode fornecer  um passe pela força do desejo e pelo auxílio dos Espíritos. O fluxo magnético se sustenta e se arremessa à custa da vontade tanto do passista quanto de seres desencarnadas que o acodem na conciliação dos fluídos. 
O evangelista Marcos descreve  sobre um dos  chefes da sinagoga, “chamado Jairo que logo após avistar a Jesus, lançou-se-lhe aos pés. E lhe rogava com instância, dizendo: Minha filhinha está nas últimas; rogo-te que venhas e lhe imponhas as mãos  para que sare e viva.”(8)  Na obra Mecanismos da Mediunidade, André Luiz explana que “o passe, como gênero de auxilio, invariavelmente aplicado sem qualquer contraindicação, é sempre valioso no tratamento devido aos enfermos de toda classe”(9)
Em suma, não é demasiado recordar  que o exercício das práticas espíritas sem a devida base moral será, fatalmente, uma incursão invariável no mundo da inadvertência e, consequentemente, nas teias das ESCURIDÕES TRANSCENDENTAIS.


Referência Bibliográfica:

(1) Pires, José Herculano. Artigo “O Passe” disponível emhttp://www.espirito.org.br/portal/publicacoes/herculano/opd-12.html> acessado em 07/11/2011
(2) Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, ditado pelo espírito Emmanuel, Rio de janeiro: Ed FEB, 2000, perg. 98
(3) Mateus 8: 3.
(4)  Xavier, Francisco Cândido. Nos Domínios da Mediunidade, ditado pelo espírito André Luiz, Rio de janeiro: Ed FEB, 2004, Cap. XVII.
(5)  Aurélio Buarque de Holanda Ferreira . Novo Dicionário da Língua Portuguesa, SP: editora Nova Fronteira, 2001 
(6)  Deuteronômio 34: 9 -12.
(7)  Kardec Allan. A Gênese, RJ: Ed FEB, 2004, Cap. XIV, item 34.
(8)  Marcos 5: 21 - 23).
(9)  Xavier, Francisco Cândido. Nos Domínios da Mediunidade, ditado pelo espírito André Luiz, Rio de janeiro: Ed FEB, 2004, Cap. XII