MENU

sexta-feira, 27 de junho de 2014

SÓ APÓS MUITAS GERAÇÕES...(Jorge Hessen)

Jorge Hessen
http://aluznamente.com.br

Durante a Revolução Francesa, a Comissão de Segurança Pública deu permissão para utilização de um castelo nos arredores de Paris como um curtume a fim de processar couro de pele dos corpos de pessoas executadas pela guilhotina. Na época, um grande número de cavalheiros usavam calças e botas da moda produzidas a partir da matéria-prima (pele humana) considerada flexível e de alta qualidade.
Faziam-se também coletes durante esse reinado do terror na França do século XVIII. À época, Saint-Just cresceu para se tornar um líder político e bárbaro comandante militar. Há uma história de que Saint-Just estava fazendo umas investidas em uma bela mulher, mas teria sido completamente desprezado. Em um dia de fúria, ele prendeu e matou a dama, sendo sua pele removida por um cirurgião, curtida e transformada em um colete da moda, que ele usava todos os dias.
Recentemente, cientistas da universidade de Harvard, nos Estados Unidos, confirmaram por meio de análises que o livro "Des destinées de l'ame", do escritor francês Arsène Houssaye, foi encadernado com pele humana pelo médico Ludovic Bouland. (1) O livro faz parte do acervo da biblioteca Houghton, dessa universidade. Entre três títulos testados, esse foi o único livro feito com a técnica conhecida como bibliopegia antropodérmica (encadernamento com pele humana). (2)
Caso semelhante está presente na coleção da biblioteca Athenaeum, de Boston, onde se encontra um livro intitulado Hic Liber Waltonis Cute Est Compactus, encadernado com a pele de George Walton, um famoso assaltante do século XIX que morreu de tuberculose na prisão em 1837. George pediu que, após sua morte, sua pele fosse utilizada para encapar um volume de sua autobiografia, que seria apresentada a John Fenno, ex-vítima de roubo que teria bravamente sobrevivido após ter sido baleado. O livro permaneceu  com a família de Fenno até ser doado à biblioteca.
Ante tais estranhas ocorrências, somos convidados a elucubrar sobre a linha limítrofe entre a racionalidade e a moralidade humana. Atualmente discorre-se bastante sobre o progresso social adquirido; contudo, o que se entende por progresso? Pode algumas vezes soar como um vocábulo vazio que reverbera nas barbaridades descritas acima. Entretanto, há 40 anos o homem pisou na Lua, dando início a eventos posteriores que evidenciaram o progresso da Ciência, no campo das descobertas espaciais. Porém, há que se observar o atraso moral do homem na Terra, apesar de todo o progresso científico-material realizado. Sabemos que o progresso material caminha na frente, ao passo que o crescimento moral vai sempre marchando em segundo plano.
Raciocinemos um pouco mais sobre isso. Elucida a Doutrina dos Espíritos que em delicado “dégradée” evolutivo o homem vai gradualmente vivenciando suas experiências nos diversos graus de desenvolvimento. Ante as diretrizes da Lei de Evolução, o “homem passa palmo a palmo da barbárie à civilização moral”. (3) Explicam os Espíritos que “o senso moral, mesmo quando não está desenvolvido, não está ausente, porque existe, em princípio, em todos os homens; é esse senso moral que os transforma mais tarde em seres bons e humanos. Ele existe no selvagem como o princípio do aroma no botão de rosa de uma flor que ainda não se abriu”. (5)
Estamos constantemente diante dos paradoxos existenciais. Como compreender a experiência de  criaturas bestiais, quase selvagens, no seio de seres ditos civilizados? “Da mesma maneira que numa árvore carregada de bons frutos existem temporãos. Elas são selvagens que só têm da civilização a aparência, lobos extraviados em meio de cordeiros. Os Espíritos de uma ordem inferior, muito atrasados, podem encarnar-se entre homens adiantados com a esperança de também se adiantarem; mas, se a prova for muito pesada, a natureza primitiva reage”. (5)
Este é um entendimento coerente, quando compreendemos a bênção da reencarnação. Como se observa na elucidação dos Luminares do além: “A Humanidade progride. Esses homens dominados pelo instinto do mal, que se encontram deslocados entre os homens de bem, desaparecerão pouco a pouco como o mau grão é separado do bom quando joeirado. Mas renascerão com outro invólucro. Então, com mais experiência, compreenderão melhor o bem e o mal. O exemplo temos nas plantas e nos animais que o homem aprendeu como aperfeiçoar, desenvolvendo-lhes qualidades novas. Só após muitas gerações que o aperfeiçoamento se torna mais completo. Esta é a imagem das diversas existências do homem”. (6)
É dessa forma que evoluímos – lentamente, renascendo e (re)morrendo nos diversos estágios dos mundos, consoante categorização proposta pelo lente lionês, designando-os de mundos “primitivos”, de “expiação e provas” (atualmente na Terra), de “regeneração”, “ditosos e divinos” até chegarmos, após milênios, ao mundo dos venturosos, onde tão-somente impera o bem e tudo é movido por anseios sublimes e todos os sentimentos são depurados.



Notas e referências bibliográficas:

(1)            No livro há uma dedicatória manuscrita por Ludovic Bouland, afirmando que a pele de uma mulher com problemas mentais, morta por um derrame, havia sido usada na capa.
(2)            Disponível em http://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2014/06/04/livro-frances-tem-capa-feita-com-pele-humana-afirmam-cientistas-de-harvard.htm acesso 20/06/2014
(3)            Kardec, Allan. O Evangelho seg. o Espiritismo. 129. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2009, cap. XXV, item 2.
(4)            Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio [de Janeiro]: Ed. FEB, 2009, questão  754
(5)            Idem questão  755
(6)            Idem questão 756

segunda-feira, 23 de junho de 2014

ESTÁ ORDENADO QUE O HOMEM MORRA E RENASÇA VÁRIAS VEZES (Jorge Hessen)

Jorge Hessen
http://aluznamente.com.br

No diálogo com o doutor Nicodemos, o Mestre de Nazaré foi muito objetivo quando disse: “Necessário vos é nascer de novo”. (1) Não obstante a lógica da reencarnação, ainda hoje, pastores e “bispos” evangélicos (ou protestantes), o clero católico, os reverendos anglicanos, líderes da igreja ortodoxa, teólogos “independentes” e outros teólogos recusam a Pluralidade das existências, fundamentados principalmente no “versículo 27 inserto no capítulo 9, constante na intrigante epístola conferida a Paulo, dirigida aos hebreus que narra: "aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo". (2) Pronto!... Caso encerrado. Está definitivamente decretada a “morte” da reencarnação entre os homens.
A propósito do célebre versículo 27 é óbvio que o homem carnal morre só uma vez. Quem é enterrado (ou cremado), jamais se levantará, parafraseando a narrativa de “Jó” (3) contida no capítulo7, versículo 9. Mas espiritualmente somos indestrutíveis, portanto imortais. Somos espíritos e renascemos para dar vida ao corpo perecível. E precisamos ponderar que Jesus em nenhum momento atribui para a vida física um valor decisivo para toda existência posterior à desencarnação.
Ao analisar com mais atenção a carta aos hebreus, perceberemos que não é Paulo de Tarso o seu autor. Desvia-se do estilo do Apóstolo dos Gentios. Falta-lhe o habitual cabeçalho localizável nas 13 cartas paulinas e ademais somente no último capítulo contém assunto à guisa de epístola. Orígenes, o maior escritor sobre as escrituras “sagradas”, da Idade Antiga, depois de expor os vários elementos e juízos sobre a questão da autoria da carta aos hebreus, concluiu: “para expressar o meu parecer, diria que os pensamentos são do Apóstolo [Paulo], mas... quem a redigiu só Deus o sabe”.
Diversos doutores da igreja, como Irineu de Lyon e Cipriano de Cartago, jamais aceitaram a carta aos hebreus. Tertuliano, Gregório de Elvira atribuíram-lhe autoria a “Barnabé”. Finalmente, Jerônimo, no Século V, escreve que “o costume dos latinos não admite a epístola aos hebreus entre as canônicas”. (4) Os teólogos e doutores da igreja só confirmaram tal carta aos hebreus a partir do Concílio de Trento, no Século XVI, portanto 1.600 anos após ter sido escrita.
Como se observa, até hoje o autor permanece desconhecido, mas e quanto aos destinatários? Sabe-se que tal missiva era destinada aos cristãos oriundos do judaísmo, pois é inteiramente impregnada de citações e alusões aos livros “sagrados” do Antigo Testamento. “A língua em que a epístola foi redigida afasta-nos da Judéia, na qual se falava o aramaico. Provavelmente a carta foi destinada a judeus-cristãos de Jerusalém refugiados na Fenícia, Chipre e Antioquia e noutras cidades helenísticas da costa mediterrânea.”. (5)
Os oponentes da reencarnação dogmatizaram a lição do “nascer de novo”, justificando a “ressurreição” da filha de Jairo (6),do filho da viúva de Naim (7) e do Lázaro (8). Porém, se tais personagens "ressuscitaram", como sói afiançarem os dogmáticos, como ficaria a evocação do “encantado” versículo 27 da carta aos hebreus para negar a reencarnação"? Nesse caso, basta perceber que a filha de Jairo, o filho da viúva de Naim e Lázaro "ressuscitados" (segundo a visão da fé senil), não teriam morrido uma só vez, porquanto após a “ressurreição” todos três morreram novamente, ou será que permanecem vivos até hoje? Será que se encontram escondidinhos em Qumrãn, nas ruínas ao pé das montanhas do deserto da Judéia, às margens do Mar Morto, não muito além de Jericó? Huumm!!!
A bem da verdade, as personagens “ressuscitadas” por Jesus sequer estavam mortas, tão-somente estavam acometidas de catalepsia patológica (9). E mais: o Mestre asseverou que a verdade libertaria o homem, logicamente se a verdade (reencarnação) está sendo negada aos cristãos, fica evidente que os “sabe-tudo das escrituras sagradas” não se encontram livres, ou o que é pior, estão enceguecidos na mais absoluta estupidez. Portanto, são cegos que guiam outros cegos em direção ao despenhadeiro da ignorância.
Avaliemos as narrativas a seguir e cientificaremos que ao contrário do versículo 27 aos hebreus, está ordenado que o homem morra e renasça várias vezes. Notemos: “Após a transfiguração de Jesus, no Monte Tabor, os discípulos do Mestre o interrogam: Por que dizem os escribas ser preciso que antes volte Elias? - Jesus lhes respondeu: É Verdade que Elias há de vir e restabelecer todas as coisas: - mas, eu vos declaro que Elias já veio e eles não o conheceram e o trataram como lhes aprouve [João já havia sido decapitado]. É assim que farão sofrer o Filho do Homem. Então seus discípulos compreenderam que fora de João Batista que ele falara.”. (10) Aqui não há margens para inócuas digressões teológicas. Os discípulos compreenderam por si próprios que João Batista (filho de Isabel e primo de Jesus) era o profeta Elias reencarnado.
Ora, “a ideia de que João Batista era Elias e que os profetas podiam reviver na Terra se nos depara em muitas passagens dos Evangelhos. Se fosse errônea essa crença, Jesus não houvera deixado de a combater, como combateu tantas outras. Longe disso, ele a sanciona com toda a sua autoridade e a põe por princípio e como condição necessária, quando diz: "Ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo." E insiste, acrescentando: Não te admires de que eu te haja dito ser preciso nasças de novo.”. (11)
O livro dos Reis anota: “Era um homem vestido de pelos, e com os lombos cingidos dum cinto de couro. Então disse ele: É Elias.”. (12) O profeta Malaquias narra: “Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor.”. (13) O evangelista Lucas que registra: “Apareceu-lhe, então, um anjo do Senhor, em pé à direita do altar do incenso. E Zacarias [progenitor de João Batista], vendo-o, ficou turbado, e o temor o assaltou. Mas o anjo lhe disse: Não temais, Zacarias; porque a tua oração foi ouvida, e Isabel, tua mulher, te dará à luz um filho, e lhe porás o nome de João;  irá adiante dele no espírito e poder de Elias [reencarnado].”. (14)
O jovem evangelista Marcos assinala: “Então lhe perguntaram: Por que dizem os escribas que é necessário que Elias venha primeiro? Respondeu-lhes Jesus: Na verdade Elias havia de vir primeiro, a restaurar todas as coisas; e como é que está escrito acerca do Filho do homem que ele deva padecer muito a ser aviltado? Digo-vos, porém, que Elias já veio, e fizeram-lhe tudo quanto quiseram, como dele está escrito.” (15)
Mateus mais uma vez anota: “E desde os dias de João, o Batista, até agora, o reino dos céus é tomado a força, e os violentos o tomam de assalto. Pois todos os profetas e a lei profetizaram até João. E, se quereis dar crédito, é este (João Batista) o Elias que havia de vir [pela reencarnação]. Quem tem ouvidos, ouça.”. (16) "E Jesus falou aos seus discípulos, dizendo: Que dizem os homens que é o Filho do homem? E eles responderam: Uns dizem que é João Batista, outros que é Elias, outros ainda que é Jeremias ou algum dos profetas.". (17)
Confirmação mais clara que as declarações de Jesus acima é impossível. O Mestre, na sua excelsitude, sabia da reencanação antecedente do filho de Zacarias e Isabel, e explicou que as pessoas fizeram o que quiseram com Elias [Joao Batista], mas que não o reconheceram, e também não poderiam, pois o profeta Elias estava reencarnado no corpo de João Batista. Enfim, não é tão difícil assim compreender a realidade da reencarnação; basta recorrer aos episódios sucedidos à época de Jesus, seja diante de Nicodemos, seja a confirmação do renascimento de Elias Joao Batista e até mesmo o evento do Cego de Nascença nas cercanias da piscina de Siloé.

Referências bibliográficas:
(1) João 3
(2) Hebreus  9
(3) Jó 7
(4) Soares, Matos. Tradução da Vulgata, publicada  em São Paulo: Edições Paulinas, 1989
(5)Idem
(6) Mateus.9
(7) Lucas.7
(8) João.11
(9) No passado existiram casos de pessoas que foram enterradas vivas e na verdade estavam passando pela catalepsia patológica. Muitos especialistas, contudo, afirmam que isso não seria possível nos dias de hoje, pois já existem recursos tecnológicos que, quando corretamente utilizados, não falham ao definir os sinais vitais e permitem atestar o óbito com precisão.
(10) Kardec, Allan.  Evangelho Segundo o Espiritismo, RJ: Ed FEB, 2001, Cap IV
(11) Idem
(12) 2 Reis 1
(13) Malaquias 4
(14) Lucas 1
(15) Marcos 9
(16) Mateus 11
(17) Mateus 15

quarta-feira, 11 de junho de 2014

O SER HUMANO É MONOGÂMICO. SOMOS SERES HUMANOS, LOGO, SOMOS MONOGÂMICOS (Jorge Hessen)

Jorge Hessen
http://aluznamente.com.br

Com base no “direito consuetudinário” (1), Uhuru Kenyatta, presidente do Quênia, sancionou uma lei que legaliza a poligamia no país. A Poligamia, mormente a masculina, é um costume aceito em alguns países, cujas leis e religiões permitem. Em algumas sociedades mais tradicionais da África Subsaariana, por exemplo, a prática é comum - segundo o relatório Social and ethical aspects of assisted conception in anglophone sub- Saharan África, da Organização Mundial de Saúde. O estudo da OMS afirma que, mais do que ser aceita, a poligamia é até mesmo incentivada entre os homens nesses lugares. (2) A despeito de a poligamia ser crime nos EUA, um país dito “desenvolvido”, existem milhares e milhares de americanos vivendo em situação familiar de poligamia, notadamente os mórmons.
Os registros bíblicos mencionam Jacó (Israel), um bígamo, que gerou muitos filhos formadores das tradicionais doze tribos do “povo escolhido”. Os velhos textos narram sobre os intocáveis ancestrais dos hebreus que coabitaram com mais de uma mulher. Abraão (bígamo), Moisés (bígamo), David (polígamo), Salomão, pasme! Coabitou setecentas mulheres e trezentas concubinas. Mas sob o ponto de vista cristão, a poligamia foi, é e sempre será incabível.
Naquelas recuadas eras, como observamos, a poligamia era um costume “justificável” e natural. Não é, portanto, de se estranhar que atualmente a concupiscência e a devassidão sejam reminiscências dessas poligamias da antiguidade, alterando tão somente o panorama sócio cultural. O Alcorão, por exemplo, permite quatro esposas para cada homem; entretanto, o seu autor Maomé conservou 16 casamentos simultâneos.
A monogamia está contra as leis da natureza? Ainda hoje há os que defendem a tese de que a maior parte dos animais não são monogâmicos, assim, os maiores entraves são as regras morais que impedem de o homem ser poligâmico. Desta forma, será mesmo que a monogamia é um artifício infligido pela sociedade? Será que somos “naturalmente” poligâmicos? É óbvio que não.
Em que pese nosso respeito às outras crenças, culturas e opiniões, nós espíritas concebemos que o "instinto sexual (...) a desvairar-se na poligamia, traça, para cada um [independentemente do credo religioso ou juízo], largo roteiro de aprendizagem a que não escaparemos pela matemática do destino que nós mesmos criamos." (3)
Obviamente a poligamia é irracional e promíscua. Nela, “não há afeição real, há apenas sensualidade.". (4) A rigor, consoante os Códigos Divinos, ao danificarmos o altar interior do(a) parceiro(a), saibamos que estamos despedaçando a nós mesmos, através da consciência culpada. Nesse sentido, Emmanuel alude que "conferir pretensa legitimidade às relações sexuais irresponsáveis seria tratar 'consciências' quais se fossem 'coisas', e, se as próprias coisas, na condição de objetos, reclamam respeito, que se dirá do acatamento devido à consciência de cada um?". (5)
À medida que a individualidade evolui, passa a compreender que a energia sexual "envolve o impositivo de discernimento e responsabilidade em sua aplicação, e que por isso mesmo deve estar controlada por valores morais que lhe garantam o emprego digno, seja na criação de formas físicas, asseguradora da família, ou na criação de obras beneméritas da sensibilidade e da cultura para a reprodução e extensão do progresso e da experiência, da beleza e do amor, na evolução e burilamento da vida no Planeta.". (6)
A poligamia é uma lei humana, cuja abolição marca um progresso social e o casamento, segundo as vistas de Deus, deve fundar-se na afeição dos seres que se unem. "Se a poligamia estivesse de acordo com a lei natural deveria ser universal, o que, entretanto, seria materialmente impossível, em virtude da igualdade numérica dos sexos. A poligamia deve ser considerada como um uso ou uma legislação particular, apropriada a certos costumes e que o aperfeiçoamento social fará desaparecer pouco a pouco.". (7) Até porque, através da poligamia, o espírito assinala, a si próprio, longa marcha em existências e mais existências sucessivas de reparação e aprendizagem, em cujo transcurso adquire a necessária disciplina do seu mundo afetivo e emotivo.
A monogamia é o clima espontâneo do ser humano, de vez que "dentro dela realiza, naturalmente, com a alma eleita de suas aspirações a união ideal do raciocínio e do sentimento, com a perfeita associação dos recursos ativos e passivos, na constituição do binário de forças, capaz de criar não apenas formas físicas, para a encarnação de outras almas na Terra, mas também as grandes obras do coração e da inteligência, suscitando a extensão da beleza e do amor, da sabedoria e da glória espiritual que vertem, constantes, da Criação Divina.". (8)
Portanto, a ordem natural e inerente à espécie humana é, incontestavelmente, a monogamia, visto que, tendo por base a união constante dos cônjuges, permite que se estabeleça entre ambos uma estreita solidariedade, não só nas horas de regozijo como nos momentos difíceis e dolorosos. O casamento monogâmico é o instituto que melhor satisfaz aos planos do Criador, no que tange a preparar a família para uma convivência pacífica, alegre e fraterna, estados esses que hão de estender-se, no porvir, a toda prole mundial.


Referências bibliográficas:

(1)            No direito consuetudinário, as leis não precisam necessariamente estar num papel ou serem sancionadas ou promulgadas. Os costumes transformam-se nas leis.
(2)            Relatório Anual de 2007 Organização Mundial de Saúde
(3)            Xavier, Francisco Cândido, Vieira Waldo. Evolução em Dois Mundos, cap. XVII, Ditado pelo espírito André Luiz/, RJ: Ed. FEB, 2000
(4)            Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2000, Comentário de Kardec: questão 701
(5)            Xavier , Francisco Cândido. Vida e Sexo, Ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001
(6)            Idem
(7)            Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2000, Comentário de Kardec: questão 701
(8)            Evolução em Dois Mundos, XVII, André Luiz/Chico Xavier/Waldo Vieira, FEB

sexta-feira, 6 de junho de 2014

LINCHAGEM, UMA MULTIDÃO HOMICIDA (Jorge Hessen)

Jorge Hessen
http://aluznamente.com.br

Consigna a Wikipédia que linchamento ou linchagem é o assassinato de uma ou mais pessoas cometido por uma multidão com o objetivo de punir um suposto transgressor ou para intimidar, controlar ou manipular um setor específico da população. Cita ainda que o coronel Charles Lynch praticava linchamento nos idos de 1782, durante a guerra de independência dos Estados Unidos. Entretanto, costuma-se conferir com mais frequência a origem do termo “linchamento” ao capitão William Lynch, do condado de Pittsylvania, Virgínia, que manteve um comitê para manutenção da ordem durante a revolução americana. (1)
A “lei de Lynch” deu origem à palavra linchamento, em 1837, designando o desencadeamento do ódio racial contra os índios, principalmente na Nova Inglaterra, apesar das leis que os protegiam, bem como contra os negros perseguidos pelos "comitês de vigilância" que darão origem ao Ku Klux Klan. Apesar dessa paternidade reconhecida a Charles ou William Lynch, a prática de assassinato por uma multidão já ocorria na Idade Média na Europa.
Antes, porém, na Antiguidade, são inúmeros relatos de linchamentos promovidos sob os auspícios da lei. Entre os judeus, a lapidação – apedrejamento pela multidão – era uma penalidade aplicada em diversos casos, tais como o adultério feminino e a homossexualidade masculina, dentre outros. Dois casos célebres de lapidação são narrados no Novo Testamento – o da mulher adúltera, evitado por Jesus Cristo, e o de Estêvão.
O fato que causou forte comoção nacional, considerada a  20ª (vigésima) morte por linchamento no Brasil apenas no ano de 2014 (2), foi o assassinato de Fabiane Maria de Jesus, linchada por moradores do bairro de Morrinhos IV, na periferia do município de Guarujá, no litoral do estado de São Paulo, em 3 de maio de 2014. Fabiane tinha 33 anos, era uma dona de casa casada, mãe de duas crianças e morava no bairro. Ela foi confundida com uma sequestradora de crianças para sacrifícios em rituais de magia negra; foi espancada e morta pela multidão.
A violência do homem “civilizado” tem as suas raízes profundas e vigorosas na selva. O homo brutalis tem as suas leis: subjugar, humilhar, torturar, linchar e matar. O pragmatismo das sociedades contemporâneas robotizou o homem, o que vale dizer que o petrificou no plano moral. O mesmo indivíduo que se prostra diante das imagens frias dos altares, nos templos suntuosos, volta ao seu posto de mando para ordenar torturas e linchamentos. O homem contemporâneo vive atormentado pelo medo, esse inimigo atroz que o assombra, uma vez submetido às contingências da vida atual, de insegurança e de incertezas, resultando grave deterioração da ética. Será preciso reformular conceitos, repensar valores, reformar a intimidade e adotar o Evangelho como diretriz de segurança para o futuro da sociedade.
Em pleno século XXI, numa sociedade civilizada, o que se espera é que as pessoas se mobilizem para melhorar as instituições, e não para fazer justiça com as próprias mãos de forma selvagem, sem dar aos suspeitos o direito à defesa. Com isso, no afã de tentar fazer uma suposta justiça, cometem-se grandes injustiças. Mesmo que a vítima seja criminosa, isso não abranda o aspecto bestial de um linchamento. No passado, os linchadores teriam a premissa para devolver o troco na mesma moeda por causa do Código de Hamurabi, criado em 1780 a.C., um dos primeiros códigos de leis escrito na História, também conhecido como Lei de Talião, que pregava o princípio de proporcionalidade da punição, no "olho por olho, dente por dente".
Habitualmente o linchamento germina em sociedades que não acreditam nos seus dispositivos de segurança, em seus processos penais. Uma polícia negativamente avaliada, um sentimento de impunidade generalizada, um judiciário percebido como vagaroso e inútil, um Estado ausente inábil de resolver conflitos, um sistema omisso. Quebras diárias de confiança e legitimidade que levam o linchador a buscar e justificar sua estúpida justiça com as próprias mãos.
O comportamento livre e “justificado” dos linchadores reflete um pouco os conceitos de “Estado Natural” de Hobbes (1588-1679) e Locke (1632 - 1704). Para Thomas Hobbes, os homens são maus por natureza, ou seja, "o homem é o lobo do próprio homem”, dizia, e a organização social civil surge não pela “boa vontade de uns para com os outros, mas o medo recíproco”; portanto urge a presença do Estado para, com autoridade absoluta, estabelecer a ordem. O filósofo John Locke proferia que se houver quebra de confiança no Estado ou se este não cumprir com as suas obrigações, o povo pode se rebelar. Nessa linha, os linchamentos seriam formas de se rebelar contra um Estado em que não se confia mais. Mais tarde, o  teórico escocês David Garland, que estudou os linchamentos em várias de suas obras, definiu tal prática como formas coletivas de realizar a justiça retributiva, restabelecer a honra perdida e reafirmar o poder do grupo.
A onda crescente de delinquência que se espalha por toda a Terra assume proporções catastróficas e imprevisíveis, exigindo do homem honesto e lúcido profunda reflexão. “Segundo recentes dados da ONU, o Brasil (um país supostamente pacato) ocupa o indigno 15º (décimo quinto) lugar na lista dos países mais violentos do mundo (o que fez o Le Monde batizar a copa da FIFA  de "Copa do Medo"). E das cinquenta cidades mais perigosas do planeta, 16 (dezesseis) são brasileiras.” (3)
"Os sãos não têm necessidade de médico, mas sim os enfermos". (4) Reflitamos, à luz da Doutrina Espírita, sobre crime, violência e sobre a lei. O mandamento maior da lei divina inclui a caridade para com os criminosos, por mais difícil que possa parecer ter este sentimento diante da barbárie. Perante a Lei de Deus, somos todos irmãos, por mais repugnante que seja para os linchadores tal ideia. O criminoso é alguém que desconhece a Lei Divina, que não reconhece a paternidade divina, e portanto não vê no outro um irmão. Nós, que já temos esses valores, sabemos que ele é também um filho de Deus, por enquanto transviado do bem, que precisa do nosso amor fraterno.
Mas de que maneira amar um criminoso, um inimigo da sociedade? Kardec nos instrui “que amar os inimigos não é ter-lhes uma afeição que não está na natureza, visto que o contato de um inimigo nos faz bater o coração de modo muito diverso do seu pulsar ao contato de um amigo. Amar tais inimigos é não lhes guardar ódio, nem rancor, nem desejos de vingança; é perdoar-lhes, sem pensamento oculto e sem condições, o mal que causem; é desejar-lhes o bem e não o mal; é socorrê-los, em se apresentando ocasião; é abster-se, quer por palavras, quer por atos, de tudo o que os possa inutilizar; é, finalmente, retribuir-lhes sempre o mal com o bem, sem a intenção de degradá-los.” (5)
O Mestre nazareno ensinou: "haveis aprendido o que foi dito aos Antigos: Vós não matareis, e todo aquele que matar merecerá ser condenado pelo julgamento. Mas eu vos digo que todo aquele que se encolerizar contra seu irmão merecerá ser condenado pelo julgamento; que aquele que disser a seu irmão Racca, merecerá ser condenado pelo conselho; e que aquele que lhe disser: Vós sois louco, merecerá ser condenado ao fogo do inferno". (6)
Allan Kardec admoesta que “por essas máximas, Jesus faz da doçura, da moderação, da mansuetude, da afabilidade e da paciência uma lei: condena, por conseguinte, a violência, a cólera e mesmo toda expressão descortês com respeito ao semelhante.”. (7) Portanto, o Espiritismo ensina que amar os inimigos é uma das maiores conquistas sobre o egoísmo e o orgulho, é desejar-lhes o bem em vez do mal, é não lhes ter ódio, ou desejo de vingança.

Referências bibliográficas:
(1)           Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Linchamento acesso  em 2 de junho de 2014
(2)           Jornal Correio Braziliense/junho de 2014.
(3)           Disponível em http://www.brasilpost.com.br/patricia-melo/genocidio-autorizado_b_5291725.html acesso em 1 de junho de 2014
(4)           Mateus, IX:10-12
(5)           Kardec, Allan. Evangelho Segundo o Espiritismo, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001, cap. IX.
(6)           Mateus, 21 e 22.
(7)           idem​