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quinta-feira, 13 de março de 2014

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO NA LINGUAGEM DA RAZÃO - 150 DEPOIS (Jorge Hessen)

Jorge Hessen
http://aluznamente.com

Jesus, durante milênios, enviou seus emissários para instruir povos, raças e civilizações com conhecimentos e princípios da lei natural. Além disso, há dois mil anos, veio pessoalmente ratificar os conhecimentos já existentes, deixando o Evangelho como patrimônio para toda Humanidade. Examinando o trajeto histórico das civilizações identificamos que em todos os tempos houve missionários, fundadores de Religião, filósofos, Espíritos Superiores que aqui encarnaram, trazendo novos conhecimentos sobre as Leis Divinas ou Naturais com a finalidade de fazer progredir os habitantes da Terra. Entretanto, por mais admiráveis que tenham sido suas missões, nenhum se iguala ao Cristo. Até mesmo porque todos eles estiveram a serviço do Mestre Incomparável, o Guia e Governador Espiritual deste belíssimo planeta.
Segundo o Espírito Humberto de Campos, o Sublime Galileu escolheu Ismael para ser o zelador dos patrimônios imortais que organizam a “Terra do Cruzeiro”. Portanto, Jesus transplantou para o Brasil a árvore da misericórdia informando ao seu escolhido que “na pátria dos meus ensinamentos, o Espiritismo será o Cristianismo revivido na sua primitiva pureza. Sem as ideologias de separatividade, e inundando todos os campos das atividades humanas com uma nova luz.”(1)   
Naturalmente podemos interpretar  “pátria do Evangelho” como símbolo do coração do homem de bem em qualquer espaço geográfico do planeta. Porém, não deve causar estranheza o significado do título “Brasil , Pátria do Evangelho”. Óbvio que essa expressão não reduz a missão do Espiritismo para uma dimensão geográfica, eliminando-lhe a sua universalidade. Da mesma forma, há dois mil anos, Jesus quando elegeu o povo Hebreu para levar a efeito as suas divinas lições à Humanidade , ao escolher um espaço geográfico para divulgação do Evangelho,  não reduziu a Sua mensagem à Palestina. Mas por que fez essa escolha? Em verdade, naquela época “os israelitas haviam conquistado muito, do Alto, em matéria de fé [monoteísmo], sendo justo que se lhes exigisse um grau correspondente de compreensão, em matéria de humildade e de amor”. (2) Sob essa perspectiva igualmente o Evangelho Segundo o Espiritismo ganhou colossal importância no Brasil e justifica sem dúvida a missão do País  na categoria de “Pátria do Evangelho”. 
Vamos recordar   como surgiu o projeto do terceiro livro da Codificação. Há 150 anos foi um desafio para Kardec organizar o conjunto do mais completo código moral da história - “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. Não foi tarefa simples selecionar, estruturar e interpretar as narrativas dos livros canônicos, valendo-se dos argumentos de uma Nova Revelação. O Codificador precisou ficar recolhido na sua residência na Ville Ségur por alguns dias. Em agosto de 1863, recluso em seu domicílio, recebeu “mensagens”, sobretudo do Espírito de Verdade alertando-lhe sobre a repercussão que o livro causaria não só nas hostes teológicas, mas também  entre as nações. Seria o edifício sob a qual todas as religiões poderiam abrigar-se. (3) Logo a seguir o Codificador deliberou publicar o livro “Imitation de L’Évangile selon le Spiritisme” ,  lançado em Paris em abril de 1864. 
O Evangelho Segundo o Espiritismo (4) foi dividido pelo em cinco partes, a saber, análise dos atos comuns da vida do Cristo; dos milagres; das profecias; das palavras que serviram para o estabelecimento dos dogmas teológicos e do ensino moral.  Sobre este último tema, o ex-chefe druida aclara que o ensino moral jamais foi motivo de disputas teológicas (considerando o sermão da montanha e as parábolas), razão pelo qual estrutura os alicerces básicos do terceiro livro da Codificação. 
Lembra o ínclito lionês que muitos admiram o apelo moral dos compêndios canônicos, porém poucas pessoas a conhecem profundamente, e menos ainda a compreendem e ou sabem tirar-lhe as consequências. E para agravar a situação, os escritores de renome, os poetas, os literatos trataram os códigos de moral, entretanto abordaram o assunto “evangélico” através de estilo rebuscado tirando-lhe a simplicidade primitiva, desnaturando o seu encanto e autenticidade. 
Allan Kardec afastou-se do aspecto cronológico das narrativas dos evangelistas, optando por agrupar , distribuir e transcrever metodicamente conforme a sua natureza, de maneira a que umas procedessem das outras, tanto quanto possível, visando a melhor compreensão das lições do Senhor da Galileia. 
Diversas citações dos evangelistas são ininteligíveis, e muitas parecem sem nexo, por ausência de uma chave que dê o seu verdadeiro sentido. Essa chave o Codificador oferece nos 28 capítulos de O Evangelho Segundo o Espiritismo , com base nas transcrições de Marcos, Lucas, João e Mateus, seguidos de explicações e persuasivas análises do próprio Codificador, reforçados pelas instruções complementares (mensagens mediúnicas) psicografadas em vários países (5) por vários médiuns, ditadas e assinadas por Espíritos de respeitáveis personagens da história do cristianismo.
Entre os vários Espíritos que colaboraram com suas instruções estão os padres educadores Lacordaire e Lamenais, Fénelon (escritor, político, orador, educador e arcebispo de Cambrai), Santo Agostinho (Bispo de Hipona e pai da Igreja Latina), São Luís (um dos reis da França na época das cruzadas), Paulo Apóstolo, Erasto (discípulo de São Paulo), François Nicolas Madelaine (Cardeal Marlot), Sansão, antigo membro da Sociedade Espírita de Paris, Adolfo (Bispo de Alger), João (Bispo de Bordeaux), Vianney (Cura de Ars), Emmanuel, São Vicente de Paulo, Cáritas, Pascal (geômetra, físico, filósofo, e escritor), Irmã Rosália, Enri Eine, Elizabeth de França, Delphine de Girardin, François de Genève, Lázaro, Hahnemann, Simeão, Dufêtre (Bispo de Nevers), Jules Olivier, Michel, V. Monod, uma rainha de França, entre outros, além do Espírito de Verdade, que para muitos se não é o próprio Cristo, certamente é uma plêiade de sublimes procuradores do além que agiram com a permissão direta do Governador da Terra.
Kardec contextualiza o significado de muitas palavras empregadas com frequência nas narrativas bíblicas, a fim de facilitar a compreensão do verdadeiro sentido de certas máximas do Cristo, bem como a parte histórica sobre os usos e costumes da sociedade judaica dos tempos apostólicos e, por fim,  insere o resumo da Doutrina de Sócrates e Platão demonstrando a concordância doutrinária desses precursores do Cristo.
Cumpre, portanto não perdermos de vista a total vinculação do Espiritismo com os ensinos de Jesus. Ele que administra o globo terrestre. Cada palavra que o Mestre plasmou na atmosfera terrena dirige-se a todos nós, ontem, hoje e sempre independente de onde possamos estar ou do que fazemos. 
Um dos mandamentos inesquecíveis do Príncipe da Paz está contido no Sermão da Montanha. Nessa belíssima lauda, avaliada por Mahatma Gandhi como a mais pura essência do cristianismo. O “Iluminado da Índia” disse que se um cataclismo extinguisse toda a sabedoria humana, com todos os seus livros e bibliotecas, se restasse apenas o Sermão da Montanha, as gerações futuras teriam nele toda a beleza e sabedoria necessárias para a vida.
Jesus foi, é e sempre será a síntese da Ciência, da Filosofia e da Religião. A Doutrina dos Espíritos coloca o Evangelho Segundo o Espiritismo na linguagem da razão, com explicações racionais, filosóficas e científicas. Sem abdicar do aspecto sensível da emoção que é colocado na sua expressão profunda, demonstrando que o sentimento e a razão podem e devem caminhar juntas, pois constituem as duas asas de libertação definitiva do homem.

Notas e referências bibliográficas:

(1) XAVIER, F. C. Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho (pelo Espírito Humberto de Campos). 11. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1977
(2) Xavier, Francisco Cândido. A Caminho da Luz, ditado pelo espírito Emmanuel, cap. 7, RJ: Ed FEB, 1999
(3) ________. Obras Póstumas. Tradução de Guillon Ribeiro. Ségur, 9 de agosto de 1863 (Médium: Sr. d’A…) Imitação do Evangelho. 22ª edição, pp. 307-310. FEB, 1987.
(4) A 3ª edição, revista, corrigida e modificada foi publicada em 1866
(5) A melhor garantia de que um princípio é a expressão da verdade se encontra em ser ensinado e revelado por diferentes Espíritos, com o concurso de médiuns diversos, desconhecidos uns dos outros e em lugares vários, e em ser, ao demais, confirmado pela razão e sancionado pela adesão do maior número. (definição contida no Livro dos Médiuns).

terça-feira, 11 de março de 2014

GERAÇÕES INFELIZES NA CAÇA DA “FELICIDADE” CONSTRUÍDA NAS AREIAS DA ILUSÃO (Jorge Hessen).

Jorge Hessen
http://aluznamente.com.br

Após o ano de 1945, a Alemanha despedaçada era um cenário caótico sob o ponto de vista psíquico, social e econômico. Foi um desafio para nova liderança reorganizar a Nação, dividida entre duas disposições ideológicas: a Alemanha Ocidental (capitalismo) e a Alemanha Oriental (socialismo). Nesse panorama, encontramos a juventude europeia, notadamente a germânica, completamente sem rumo. Sociólogos, filósofos, pedagogos, psicólogos e professores muito se preocuparam com aquela geração de jovens marcada por inimagináveis agonias psíquicas, físicas e morais resultantes de um conflito estúpido, testemunhas oculares de uma guerra que teve início a 1º de setembro de 1939 com a invasão de Hitler à Polônia e se estendeu até agosto de 1945, com as detonações das duas bombas termonucleares em Hiroshima e Nagasaki, no Japão.

A interrogação que aflorava em cada um desse espantoso contingente de moças e moços depois da guerra era: e agora como será o nosso destino? Já não nos basta trabalhar, ganhar dinheiro, comer, beber, procriar! A vida não pode se resumir somente nisso. Contudo, a percepção materialista, na Europa, sobretudo com base na ideologia negativista de Jean-Paul Sartre, acabou reconduzindo aqueles adolescentes do pós-guerra à caverna, fazendo-os afundar nas masmorras das metrópoles e ali se confiando à fuga espetacular da consciência e da razão pela busca desenfreada do prazer alucinado do gozo imediato.

A juventude desgovernou-se e a filosofia da flor (“paz”) e do amor (“sexo”) assumiu dimensões assombrosas, solicitando de especialistas as propostas para preparação de novos conceitos filosóficos apropriados para conter a invasão da droga, do sexo e da violência. Instala-se a reedição do ancestral princípio de Diógenes (isolamento social, reclusão em casa e negligência de higiene são os principais padrões do comportamento), adicionado pela luxuosidade e desinteresse pela vida. O “Cinismo diogenano” esguichou nas últimas amostras filosóficas, transformando os alucinógenos e barbitúricos em rota de fuga da realidade e espetacularização da paranoia.

A geração do pós-guerra foi uma geração aniquilada. Com o advento da “Guerra Fria” dos anos 50, surge as manifestações da juventude transviada americana. Logo após apareceu a geração hippie como artifício do movimento de contracultura dos anos de 1960. Nos idos dos anos de 1970 encontramos uma geração com qualidades deprimentes. No Brasil convivemos com os patéticos “Anos Rebeldes”, em cuja circunstância os jovens, manipulados por ideologias materialistas, repugnavam o regime estabelecido. Na ocasião, alguns impetuosos admiradores do violentíssimo guerrilheiro “Che Guevara” somaram esforços no sentido de transplantar para a Pátria do Evangelho o execrando ateísmo materialista tramado pela Revolução Soviética, o que resultou em despropositados conflitos ideológicos, numa luta terrorista, por reivindicações menores no que tange a situações econômicas e sociais.

Nos anos de 1980 e 1990, houve uma invasão generalizada de ideologias extravagantes. Há irrupção dos desvios de vidas passadas, e surgem as gangues neonazistas, os bad boys, os Punks. Paralelo às buscas desses jovens estranhos, desencadeia-se, no anverso social, a explosão do consumo com o advento, em profusão, dos centros comerciais (Shopping Center). Os meios de comunicação quebraram os valores regionais e introduziram uma cultura uniforme, sem fronteiras. Em face de valores como o amor, a liberdade, a justiça e a fraternidade, que na prática perderam o conteúdo original, surgia uma nova realidade, o CONSUMO, estabelecendo os seus próprios valores: o sucesso e a competição.

Atualmente se faz menção a uma geração sem necessariamente compará-las com as mesmas características de gerações anteriores. Antigamente, quando se fazia referência a crianças, adolescentes ou pessoas mais velhas, generalizavam-se o comportamento e características das mesmas, independente da época em que viviam. Agora, estuda-se o comportamento do adolescente, considerando o modo de vida de sua época. De tal modo, procura-se entender que um adolescente do Século XIX, carrega características desiguais de um adolescente do início do Século XX, ou dos anos 50, 60 ou 90.

A primeira proposta para explicar essa querela foi batizada como Geração “X” (nascidos entre os anos 1960 e 1980). Geração essa constituída pelos filhos dos “Baby Boomers”(1) da Segunda Guerra Mundial. A Segunda geração foi a denominada Geração “Y” - Yuppie(2). Apesar de não haver um consenso a respeito do período da Geração “Y”, a maioria da literatura faz referência a ela como as pessoas nascida entre os anos de 1980 e de 2000. São, por isso, muitos deles, filhos da geração “X” e netos da Geração “Baby Boomers”.(3)

Afirma-se que a Geração “Y” (Yuppie), também conhecida como Geração “Next” ou “Millennnials”, é uma geração infeliz.(4) São jovens profissionais entre os 20 e os 40 anos de idade, geralmente de situação financeira intermediária entre a classe “média” e a classe “alta”. Em geral possuem formação universitária, trabalham em suas profissões de formação e seguem as últimas tendências da moda. Para Paul Harvey, professor da Universidade de New Hampshire, nos Estados Unidos, a geração Y tem “expectativas fora da realidade e uma grande resistência em aceitar críticas negativas” e “uma visão inflada sobre si mesmo”.(5)

Na experiência de cada geração, o jovem encontrará adultos inescrupulosos, ambiciosos, calculistas (ex-jovens sem ideais) e isso muitas vezes o deixará desanimado, esfriando-lhe o entusiasmo e o idealismo; apesar disso, não deve congelar o ânimo, porque também encontrará adultos idealistas, compreensivos, honestos. Um fato é real: quando o jovem (de qualquer geração) deixa de seguir os bons exemplos dos homens honestos e idealistas e se abate na amargura, a sociedade terrena sofre um prejuízo irreparável, isso porque a melhora do mundo depende invariavelmente das novas gerações.

Para a “infeliz” Geração “Y” podemos afirmar que a “felicidade” é um assunto subjetivo. Não há como restringi-la a discursos improdutivos, pois tendemos a configurá-la num modelo “perfeito”, num padrão que se enquadre para todos. E não existe um molde de felicidade, cada um atinge do seu jeito. Não há como alcançar a tal felicidade racionalmente, é impossível medi-la ou discorrê-la como um padrão que sirva para todos, o tempo todo. A percepção de “felicidade” é uma experiência pessoal, exclusiva para cada indivíduo.

No campo filosófico, as gerações podem entender que elas também têm o “direito” de ficar “(in)felizes” e que aflição não é enfermidade, mas parte da condição humana – e que, sem ela, não temos o ensejo de mensurar a virtude da resignação. Portanto, em tempos de tirania da “felicidade”, acatar e permitir essa aflição diária é uma forma de resistência, uma espécie de ventura. O Espiritismo esclarece que a felicidade “é uma utopia a cuja conquista as gerações se lançam sucessivamente, sem jamais lograrem alcançá-la. Se o homem ajuizado é uma raridade neste mundo, o homem absolutamente feliz jamais foi encontrado.”(6)

Há dois mil anos o Cristo avisou que "a felicidade não é deste mundo", portanto, por elevadas razões, as gerações que se sucedem continuamente necessitam viver no mundo sem escravizar-se ao mundo material sob o jugo de insana busca por uma felicidade construída nas areias da ilusão.

 Notas e referências bibliográficas:

(1) Baby Boomer é uma definição genérica para crianças nascidas durante uma explosão populacional - Baby Boom em inglês, ou, em uma tradução livre, Explosão de Bebês. Dessa forma, quando definimos uma geração como Baby Boomer, é necessário definir a qual Baby Boom estamos nos referindo;
 (2) "Yuppie" é uma derivação da sigla "YUP", expressão inglesa que significa "Young Urban Professional", ou seja, Jovem Profissional Urbano;
 (3) Há outras definições para diferentes Gerações:
 Geração Z (formada por indivíduos constantemente conectados através de dispositivos portáteis e, preocupados com o meio ambiente, que pode ser integrante ou parte da Geração Y).
 Geração Alfa (Ainda sem características precisas definidas, poderão ser filhos, tanto da geração Y, como da Geração Z).
 After Eighty: Geração de Chineses nascidos depois de 1980 (equivalente à Geração Y para os ocidentais).
 Beat Generation: Geração de norte-americanos nascidos entre as duas Guerras Mundiais.
 Lost Generation (Geração Perdida): Expatriados que rumaram para Paris depois da Primeira Guerra Mundial;
 (4) O site Wait But Why publicou a reportagem “Why Generation Y Yuppies are Unhappy” ilustrando com detalhes as prováveis razões pelos quais a atual geração Y está infeliz;
 (5) Disponível em , acessado em 28/01/2014;
 (6) Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap.V, item 20, RJ: Ed. FEB, 1999.

sábado, 8 de março de 2014

NÃO SERÁ O "RÓTULO" DE ESPÍRITA CRISTÃO (Jorge Hessen)

Jorge Hessen
http://aluznamente.com.br

A violência, em suas mais variáveis expressões, tem assumido lugar de destaque na sociedade. Jamais houve tanto embate, tanta exclusão social e tanta multiplicidade de ideias. Onde identificar as origens de tanta brutalidade? Com tantos recursos tecnológicos e a sociedade sofre com esta tensão constante onde cada um se sente ameaçado. Um planeta que oferece intensas dicas de que a extinção da espécie humana será possível, se não buscarmos desenvolvimentos autossustentáveis.
Inquestionavelmente, o avanço científico tem suscitado, em longo prazo, benefícios aos países industrializados e, ultimamente, para os países “em desenvolvimento”. As experiências da genética, das clonagens, das células-tronco, da cibernética, das conquistas espaciais, do uso do raio laser, das fibras óticas, dos supercondutores, dos microchips, da nanotecnologia são fascinantes. Jamais houve tanta possibilidade de conquista do bem estar, da moradia, da educação e de alimento para todos. Nada obstante, nunca existiram tantos cidadãos desabrigados (sem-teto), famintos e, sobretudo, desprovidos de educação. Notamos, pois, os paradoxos da hegemonia tecnológica, ao mesmo tempo em que somos abatidos diante da fome, da dengue hemorrágica, da febre amarela, da tuberculose, da AIDS e de todos os tipos de drogas.
As condições psicológicas de grandes contingentes de encarnados, alimentadores do quimérico ideal do “estar bem financeiramente”, “ganhar robustos salários” e “trabalhar para enriquecer”, permanecem no caleidoscópio íntimo daqueles que ignoram os valores espirituais. Observamos a inversão de quase todas as conquistas morais. A ansiedade descomedida, encapsulada no egocentrismo, tem acirrado a falência moral de muitos indivíduos desprevenidos. As anomalias morais nas expressões de desordem e de brutalidade são nítidos indicativos de declínio moral dessa massa humana.
O homem contemporâneo articula meios para a conquista da paz produzindo armas de fogo; almeja resolver as aberrações sociais patrocinando a construção de penitenciárias e prostíbulos. Entroniza a pujança da razão sem recorrer ao suporte da fé em Deus, motivos esses suficientes para que se aniquile ante o duelo entre o “ser” e o “ter”. A coeva situação de violência, maldade, injustiça e opressão dos poderosos sobre os fracos, tanto em nível individual, como em instituições e países, certamente terá que ceder lugar a uma NOVA ERA de paz, harmonia, fraternidade e solidariedade.
Apesar das controvérsias, e longe de um otimismo surreal, reconhecemos existir encarnados que com simples atos fazem a diferença na sociedade! Em tais pessoas identificamos a tendência altruística que já paira sobre alguns agrupamentos sociais. É o ser humano em processo de aperfeiçoamento. Os Espíritos afirmam que os tempos são chegados, e a regeneração é um fato. Em que pese existir delinquência, guerra, fome, miséria, descrença na Terra, não ignoramos que há um número cada vez maior de pessoas que sofrem pelos outros, que pranteiam o choro do semelhante e que se empenham firmemente em realizar algumas coisas para além de si mesmas.
Lamentavelmente as reportagens, os documentários, os telejornais, as mídias enfim, não destacam, ou raramente dão espaço para noticiar as práticas desses abnegados cristãos. Apesar de seu anonimato, essas pessoas existem; estão entre nós e já são numerosas, graças a Deus! Quem tem sensibilidade para identificá-las perceberá que não são santarrões ou apóstolos dissimulados, não ostentam necessariamente rótulos religiosos; pelo contrário, são pessoas “comuns”. Todavia já se destacam na qualidade das ações, dos ideais, dos sentimentos em bases de fraternidade e solidariedade. O Evangelho explica que são esses os sentimentos estruturais dos mundos em regeneração.
Por oportuno, vale lembrar, mormente aos espíritas, que não adianta frequentar um Centro Espírita, cumprir rigorosamente os compromissos estatutários da instituição, fazer palestras arrebatadoras etc., etc., etc., para ser um bom cidadão. Os Benfeitores do Além advertem que o verdadeiro espírita (aquele que contribui com a efetiva transformação social) é aquele que pratica a lei da Justiça, do Amor e da Caridade na sua maior pureza. Nesse sentido, estejamos cônscios de que não será o "rótulo" de espírita cristão que terá algum valor nesse desígnio, mas o bem praticado desinteressadamente em favor de alguém.
Hoje, em que todas as conquistas do progresso se submerjam nas intransigências, o Evangelho Segundo o Espiritismo é a poderosa resposta para as questões sociais, por significar a Mensagem de Jesus rediviva que as religiões textualistas tentam sepultar nos interesses mercantis e no concerto leviano de seus partidários.

Recompondo os ensinos de Jesus para o homem e elucidando que os valores verdadeiros da criatura são os que resultam da consciência e do coração. O Espiritismo reafirma a verdade de que a cada homem será dado de acordo com seus merecimentos, no empenho pessoal, dentro da aplicação da lei do trabalho e do bem, razão pela qual representa o melhor antídoto dos venenos sociais atualmente espalhados no mundo pelas filosofias políticas do contrassenso e da cobiça colossal, restaurando a verdade e a concórdia para os corações, conforme doutrinam os Espíritos da Codificação.

sexta-feira, 7 de março de 2014

O AMOR RESUME INTEIRAMENTE A DOUTRINA DE JESUS (jorge hessen)

Jorge Hessen
http://aluznamente.com.br
Pesquisadores situam o "Amor" como um subproduto oriundo da reação química regida pelo cérebro. No processamento biológico refere-se a feniletilamina (1) produzida pelo organismo, na medida em que surge uma atração sexual absorvente. Para Hellen Fischer, estudiosa do assunto, o romantismo tende a desaparecer em pouco tempo. Hellen crê que existe outra substância relacionada ao "Amor": a Oxitocina, que “sensibiliza os nervos nas contrações musculares, porém o efeito dessas substâncias é pouco duradouro, resultando no esfriamento afetivo e nas separações entre os casais, razão do grande número de divórcios”. (2)
Nessa direção perambula Barbara Fredrickson, diretora do Laboratório de Emoções Positivas e Psicofisiologia da Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill (EUA), que sugere novo conceito sobre o Amor, baseado no arranjo biológico. Para ela a ideia do amor eterno é um mito e uma impossibilidade fisiológica, pois o “amor” é fugaz. Trata-se tão-somente de “micromomentos de ressonância de positividade”. Barbara destaca três protagonistas-chave no microcenário do amor. O primeiro é o cérebro, ou, mais precisamente, os neurônios-espelhos. O segundo é a oxitocina, produzida no hipotálamo, para ela um hormônio vinculado ao “amor” e ao “afeto”. O terceiro é o nervo vago, que liga o cérebro ao resto do corpo, e em especial ao coração – isso torna a pessoa mais amorosa e aumenta suas conexões positivas. (3)
O dicionarista Aurélio Buarque define o Amor como “um sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outrem, ou de alguma coisa. Pode ser um sentimento terno ou ardente de uma pessoa por outra, e que engloba também atração física, ou ainda inclinação ou apego profundo a algum valor ou a alguma coisa que proporcione prazer, entusiasmo, paixão”. (4) Sobre que tipo de “amor” tais especialistas estão fazendo ilações?
Será plausível comparar o Amor com o mosaico das sensações fisiológicas do ser humano? Metaforicamente podemos até citar o amor conjugal, amor materno, amor filial ou fraterno, amor à pátria, da raça, da humanidade, como refrações, raios refratados do amor divino, que abrange, penetra todos os seres, e difunde-se neles, faz rebentar e desabrochar mil formas variadas, mil esplêndidas florescências de amor.
Não se pode, porém, definir Amor como se fosse a abrasadora paixão que provoca os desejos carnais. Esta não passa de uma imagem de um grosseiro simulacro do Amor. Nos dias de hoje, fala-se e escreve-se muito sobre sexo, sensualismo, erotismo; raramente sobre Amor. Certamente, porque esse sentimento (Amor) não se deixa decifrar academicamente, repelindo toda tentativa de definição científica.
O Amor verdadeiro vai muito além do cientificismo, do romantismo e do erotismo. Embora absorvidos pela condição animalizante, psicólogos e filósofos até hoje se interessam por estudar, quase que exclusivamente, essa forma lírica e dramática da paixão entre duas criaturas. A Psicanálise, nos primórdios da teoria freudiana, colocou o problema do “Amor” na dimensão do patológico. Em verdade, Freud teve de entrar no estudo e na pesquisa do “Amor” pelos porões da psicopatologia. O aspecto patológico é o mais dramático do “Amor” e o que mais toca o interesse humano.
Ao oposto do Amor, a paixão é exclusivista, egoísta, dominadora; é predominantemente desejo. Um sentimento que impõe o sequestro da consciência do outro, desenvolvendo uma forma possessiva, em que brota o ciúme e a vontade de domínio integral da pessoa "amada". O Amor é mais forte do que o desejo, mais poderoso que o ódio.
O vazio conceitual deve-se à dificuldade de manifestação do Amor na forma de solidariedade e fraternidade no mundo contemporâneo. A ampliação dos centros urbanos cunhou a “Era da alienação”, a síndrome da multidão solitária, das adesões afetivas frágeis. As pessoas estão lado a lado, mas suas relações são de contiguidade e brutal desconfiança. A presente geração, amputada de maiores anseios espirituais, intrinsecamente hedonista, sensual e consumista, conferindo a si mesma as mais elevadas aquisições de caráter prático na província da razão, produziu os mais extensos desequilíbrios nos cursos evolutivos do planeta, com o seu imperdoável alheamento do Amor.
Allan Kardec, comentando a questão 938 de O Livro dos Espíritos, certifica: “a natureza deu ao homem a necessidade de amar e de ser amado. Um dos maiores gozos que lhe são concedidos na Terra é o de encontrar corações que com o seu simpatizem. Dá-lhe ela, assim, as primícias da felicidade que o aguarda no mundo dos Espíritos perfeitos, onde tudo é amor e benignidade. Desse gozo está excluído o egoísta.” (5) O apóstolo dos gentios, escrevendo aos filipenses, ensinou que “o Amor deve crescer, cada vez mais, no conhecimento e no discernimento, a fim de que o aprendiz possa aprovar as coisas que são excelentes”. (6) Se atendermos ao conselho apostólico cresceremos em valores espirituais para a eternidade, mas se rumarmos por atalhos escorregadiços, “o nosso Amor será simplesmente querer e tão-somente com o “querer” é possível desfigurar, impensadamente, os mais belos quadros da vida”. (7)
Leon Dénis decifrou: “o Amor, profundo como o mar, infinito como o céu, abraça todas as criaturas. Deus é o seu foco. Assim como o Sol se projeta, sem exclusões, sobre todas as coisas e reaquece a natureza inteira, assim também o Amor divino vivifica todas as almas; seus raios, penetrando através das trevas do nosso egoísmo, vão iluminar com trêmulos clarões os recônditos de cada coração humano”. (8)
O Convertido de Damasco anotou junto aos coríntios que "o Amor é paciente, o Amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O Amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta." (9)
O Amor, enfim, “resume a doutrina de Jesus toda inteira, visto que esse é o sentimento por excelência, e os sentimentos são os instintos elevados à altura do progresso feito. O ponto delicado do sentimento é o Amor, não o Amor no sentido vulgar do termo, mas esse sol interior que condensa e reúne em seu ardente foco todas as aspirações e todas as revelações sobre-humanas”. (10)

Notas e referências bibliográficas:

(1) Líquido oleoso, incolor, redutor enérgico, uso como reagente [fórm.: C6H8N2]
(2) Fischer , Helen. The Anatomy of Love, New York: Norton,1992
(3) Disponível em http://revistaplaneta.terra.com.br/secao/comportamento/o-amor-nao-e-eterno acesso em 01/03/2014
(4) Ferreira Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio da língua portuguesa, 5ª. Edição, Editora Positivo, 2010
(5) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB ed. 2002, questão 983-a
(6) Filipenses 1:9-11
(7) Xavier, Francisco Cândido. Fonte Viva, Cap 91, Problemas do amor, RJ: Ed FEB, 1999
(8) Denis, Léon. O Problema do Ser do Destino e da Dor, RJ: Ed FEB, 2000
(9) 1 Coríntios 13:4-7
(10 ) Allan Kardec. Da obra: O Evangelho Segundo o Espiritismo. Lázaro. (Paris, 1862.) 112a edição. Livro eletrônico gratuito em http://www.febrasil.org. Federação Espírita Brasileira, 1996.